Cooperativas também podem ser startups? A resposta é sim, e esse tipo de empreendimento já tem até nome: cooptech. Mistura das palavras cooperativa e technology (tecnologia, em inglês), o termo se refere a cooperativas que nascem com os genes das startups, as jovens empresas com alto grau de escalabilidade dos negócios, que ganharam popularidade no começo dos anos 2000.
As startups desenvolvem soluções inovadoras utilizando a tecnologia como ferramenta principal, por isso ganham nomes que combinam os setores aos quais se dedicam com o sufixo tech, como as famosas as fintechs, startups ligadas ao setor financeiro; e as novíssimas greentechs, que se dedicam à inovações sustentáveis.
No caso das cooptechs, são cooperativas formadas para atuação em negócios inovadores e ligados ao universo digital, como desenvolvimento de softwares, de games, bancos de dados, consultoria em Inteligência Artificial, entre outras áreas.
“O conceito é novo e ainda não há uma definição oficial, mas a ideia de cooptechs já mostra como o cooperativismo é inovador na sua essência e se adapta à realidade do nosso tempo. Podemos dizer que uma cooptech junta o melhor do mundo da inovação com um modelo de negócio justo, com foco nas pessoas, gestão democrática e impacto social”, afirma o gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, Guilherme Costa.
Do ponto de vista formal, o Marco Legal das Startups — lei que regulamenta o setor no Brasil — inclui as cooperativas entre os tipos de sociedades jurídicas habilitadas a serem consideradas startups, junto com as empresas tradicionais. Em vigor desde 2021, a lei diz que as startups devem ter faturamento máximo de R$16 milhões de reais por ano e até 10 anos de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
A inclusão das sociedades cooperativas na regulamentação foi uma conquista política e institucional do Sistema OCB, e abriu portas para novas possibilidades de atuação do cooperativismo no Brasil, sem abrir mão de suas características legais.
Em comum com as startups tradicionais, as cooptechs têm a atuação preponderantemente digital e o desenvolvimento de soluções inovadoras. Mas com uma diferença fundamental: por serem cooperativas elas sempre pertencem aos cooperados e são administradas por eles de forma democrática e sem intervenção externa.
Já nas startups, o caminho mais comum é que, quando uma inovação proposta por elas dá certo, o negócio ganha investidores e elas acabam absorvidas por outros grupos ou transformadas em grandes empresas. Um exemplo são as primeiras fintechs, que surgiram com a oferta de produtos específicos, como cartões digitais, e hoje atuam como os grandes bancos.
“Nas cooptechs, o modelo de negócio é 100% cooperativista, ou seja, criado a partir da união de pessoas com um objetivo econômico em comum e com foco muito além do lucro, no bem-estar dos cooperados e da comunidade”, esclarece o gestor de inovação do Sistema OCB.
Apesar de serem uma inovação dentro da inovação, as cooptechs já são uma realidade no ecossistema cooperativista e há muitos cases de jovens cooperativas com foco em tecnologia espalhados pelo mundo.
Há startups cooperativas atuando no desenvolvimento de aplicativos de realidade aumentada e virtual, como a Animorph, da Inglaterra; na criação de softwares com foco na sustentabilidade, como a francesa Fairness; e em serviços digitais com impacto social, como a italiana Gnucoop, que trabalha com desenvolvimento de código aberto e coleta de dados para atender a organizações não governamentais e empresas sem fins lucrativos.
No Reino Unido, uma rede de 41 startups cooperativas quer transformar o setor de serviços tecnológicos e digitais em um ambiente mais focado nas necessidades dos trabalhadores, dos clientes e dos usuários finais dos produtos, em vez de na geração de lucro.
Criada em 2016, a CoTech reúne mais de 200 cooperados na rede, já movimentou cerca de 14 milhões de dólares e tem mais de 400 clientes em seu portfólio. “Não apenas os conglomerados multinacionais ou as startups financiadas por capital privado podem ser grandes empresas tecnológicas. A tecnologia é a força vital do futuro de todos nós. Como cooperativistas, pretendemos garantir que a tecnologia desempenhe o seu papel na criação de um mundo mais justo”, afirmam os cooperados da CoTech no manifesto de criação da rede.
No Brasil, um exemplo de startup cooperativa é a LibreCode, uma cooperativa digital de desenvolvimento de software livre. Sempre com base em projetos de licença livre, construídos colaborativamente, a LibreCode oferece soluções digitais como gestão de documentos em nuvem, e ferramentas para assembleias online. A principal inovação da LibreCode é o LibreSign, primeiro programa de assinatura digital de código aberto.
Outra frente de atuação inovadora e tecnológica do cooperativismo, com centenas de exemplos pelo mundo, são as cooperativas de plataforma, que também podem ser consideradas startups cooperativas. Elas são a versão cooperativista das plataformas de serviços digitais que revolucionaram a forma de consumir nos últimos anos, como os aplicativos de motoristas, de entregas e de hospedagem.
O modelo das plataformas nasceu inovador, mas deixou de lado uma questão fundamental: as condições de trabalho e direitos dos prestadores de serviços, o que já desencadeou reações e mudanças na lei em várias partes do mundo. Nas plataformas cooperativas, a gestão coletiva e democrática garante que essas distorções sejam corrigidas e as pessoas sejam valorizadas.
O resultado são apps em que os trabalhadores são ao mesmo tempo prestadores de serviços e donos do negócio, como plataformas de mobilidade controladas pelos próprios motoristas, serviços de streaming de música com remuneração justa para os artistas; e aplicativos de entregas em que as regras são definidas pelos entregadores, não por algoritmos
“O cooperativismo de plataforma é um exemplo claro de como o nosso modelo de negócio pode agregar impacto social à tecnologia. Para fazer sentido, uma inovação precisa melhorar a vida das pessoas, não apenas gerar lucro. E o cooperativismo sempre aposta na inovação com propósito”, afirma Guilherme Costa.
Antes do surgimento das primeiras cooptechs, o cooperativismo sempre interagiu de perto com o mundo das startups, em conexões que aproveitam o melhor dos dois modelos e ajudam a construir um ecossistema de inovação cooperativista.
Dentro do conceito de inovação aberta, em que atores externos a uma organização participam do processo de inovar, grandes cooperativas brasileiras têm se juntado a startups para desenvolver soluções que ajudem a aumentar a competitividade do coop, seja com novos produtos, serviços ou processos.
Além do desenvolvimento de produtos e serviços inovadores, a conexão entre cooperativas e startups torna o ambiente de negócios mais dinâmico, ágil e criativo, em uma mistura de gerações e compartilhamento de experiências com benefícios mútuos.
O Sistema OCB aposta nessa integração e, por meio do programa Conexão com Startups, junta cooperativas e empresas de base tecnológica para resolver demandas do dia a dia com respostas inovadoras. Veja alguns exemplos:
Fonte: Somoscoop
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